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  • Beatriz Amorim e Beatriz Tavares

Saúde Mental: Cerca de 20 000 pessoas aguardam consulta hospitalar

Atualizado: 17 de jan.

Há cerca de 20 mil doentes à espera de uma consulta de saúde mental nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), sendo que os casos mais graves são os que têm tido uma resposta mais demorada.


Imagem: Executive Digest - Sapo

57% dos utentes classificados como “muito prioritários” e 45% dos “prioritários” já estão à espera há mais tempo do que a legislação fixa como tempo máximo de resposta garantido, segundo divulgou o JN. Todos os pacientes aguardam, em média, três meses e meio para terem uma consulta.

O relatório da OCDE divulgado em 2022 alerta para o facto de que quase um quinto da população portuguesa sofre de doença mental. De acordo com um estudo da revista The Lancet Psychiatry, as pessoas mais afetadas por transtornos mentais são adolescentes e jovens adultos.

No período pós-pandémico surgiu uma maior sensibilização para os desafios da saúde mental. No entanto, há ainda um longo caminho de melhorias a percorrer.

Em 2023, a ideação suicida, a ansiedade e a depressão foram os pontos mais frequentes em consultas de psicologia. Diana Meneses, psicóloga clínica no setor privado, revela a’O Essencial que “Portugal ocupa a 5ª posição entre os países com maior número de casos de depressão, na Europa. Cerca de 70% dos jovens portugueses fazem uso frequente de ansiolíticos e antidepressivos para fazerem frente aos sintomas que apresentam”.

Em casos mais graves de doença mental, é essencial recorrer à multidisciplinaridade ou dar mesmo espaço à interdisciplinaridade. Ou seja, não limitar o tratamento apenas a um amontoar de conhecimentos que se desenvolvem sucessivamente, mas questioná-los e discuti-los. O psiquiatra do Centro Hospitalar Tâmega Sousa – Penafiel, João Paulo Silva, afirma a’O Essencial que “este é o desafio: substituir um conjunto de saberes, por um saber conjunto”.

“A psicoterapia é, sem sombra de dúvidas, a única que resolve efetivamente as questões associadas aos sintomas, a origem do problema”, afirma a psicóloga. No entanto, existem diversas técnicas de terapias alternativas, que complementam a psicoterapia e auxiliam no processo de cura.

Alguns exemplos de técnicas de terapias alternativas são a acupuntura, a arteterapia, fitoterapia, homeopatia, EMDR, meditação, yoga, acrescenta Diana Meneses. Contudo, estudos demonstram que nenhuma terapia alternativa, por si só, consegue os resultados que a psicoterapia demonstra ter cientificamente, reforça.



A hipnose é outra técnica alternativa apresentada pela psicóloga e sobre a qual fez uma pós-graduação. Diana Meneses explica que é um procedimento que permite que a pessoa aceda a conteúdos internos que em estado de vigília (acordado) demoraria mais tempo a compreender, ampliando assim a consciência sobre si e sobre determinada situação geradora de trauma. A hipnose processa-se através da indução de um estado de profundo relaxamento (conciliar respiração profunda com relaxamento muscular progressivo).

João Paulo Silva afirma que "a saúde mental não é um tema pouco valorizado, é um tema convenientemente esquecido". O psiquiatra explica que não se refere apenas "a questões políticas mas, também, de natureza social". "Quando discutimos saúde mental, acabamos a falar de doença mental. Esta representa o maior dos nossos medos. O estereótipo da doença mental, da perda de controlo sobre nós próprios, leva a que nos afastemos da discussão, como se o evitar pudesse fornecer imunidade. Como o doente mental, aquele que padece de doença grave, é um ser frágil, um ser que é mais agredido do que agressor, mais violentado do que violento, a sua voz é pouco audível e, constantemente, são ultrapassados nas grandes opções sociais", justifica.

A desvalorização dos problemas de saúde mental dos jovens, sobretudo, por parte das gerações “boomer” (entre 1945 e 1964) e “X” (entre 1965 e 1981) agravam o adiamento do pedido de ajuda e, consequentemente, dificultam o processo de cura.

João Paulo Silva defende que “sempre houve e haverá desvios entre os jovens. Importa, no entanto, reconhecer os excessos que vão sendo cometidos e que os empurram para comportamentos nocivos.” Assim, “impõe-se às  gerações mais velhas, enquanto condutores da organização social, refletir acerca da riqueza do seu trajeto, e das implicações das suas opções. Isto é, ir ao encontro do sentido da vida e da sua essência.”

Para a psicóloga clínica, o melhor conselho transversal a todas as faixas etárias é estarem atentos à própria saúde mental e aos que nos rodeiam, aos pequenos sinais que o corpo vai dando como é o casos de sinais de fadiga, alterações do sono, de apetite e, acima de tudo, priorizar o descanso.

“Sensibilização,  prevenção, apelo à procura de ajuda e intervenção precoce, desde a preparação para a parentalidade, nas creches, escolas, municípios e nos cuidados de saúde primários.”

- Diana Meneses, psicóloga


Já o psiquiatra defende que há necessidade de investir na formação e na informação de forma adaptada e enquadrada ao desenvolvimento de cada um. Abrir espaço para o conhecimento e, sobretudo, para o ser físico, mental e social, integrando o trabalho ao nível da saúde mental com as estruturas políticas. “É necessária uma nova mudança de paradigma, que comecemos a falar uns com os outros e não apenas uns contra os outros.”


"O hospital público tem responsabilidades inerentes ao Serviço Nacional de Saúde, desde logo em termos de acessibilidade e equidade. Tem, assim, obrigações diferentes relativamente ao cidadão, nomeadamente em termos de abordagem preventiva, de resposta de proximidade que não se pode exigir ao hospital privado", continua João Paulo Silva. “A saúde não tem preço, mas tem custos”.


"A vida tem uma componente que conseguimos construir, outra, apenas, aproveitar. É do equilíbrio entre ambas que se faz o caminho, é da consciência da existência de ambas que se consegue o equilíbrio. Respeito por aquilo que somos, respeito pelo que é a vida."  

- João Paulo Silva, psiquiatra


Diana Meneses remata que um dos maiores desafios da profissão é conseguir dar resposta a todos os pedidos de ajuda, tendo em conta a lacuna existente de profissionais de saúde mental nos cuidados de saúde primários.

A saúde mental pode ser comprometida pelos mais diversos fatores, seja qual for a idade. A cooperação, a compreensão e a ajuda são essenciais.


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