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Bruna Pinheiro e Filipa Ferreira

“Life2vec”: o novo algoritmo que vai ser capaz de prever a data da nossa morte

Atualizado: 16 de jan. de 2024


Imagem: pplware

“Life2vec” é o novo modelo de algoritmo de machine learning capaz de prever, com 78% de precisão, a data da morte de uma pessoa.

Uma equipa de investigadores dinamarqueses garantiu que foi desenvolvida uma ferramenta de Inteligência Artificial (IA) capaz de prever, não só aspetos variados da vida humana, como também a possibilidade de uma morte precoce.

Os investigadores da Universidade Técina da Dinamarca garantem que o “life2vec” é, ainda, um “protótipo de investigação”, não podendo ser aplicado em vidas humanas reais.

Para este estudo, publicado na revista Nature Computational Science, foram utilizados dados de 6 milhões de pessoas, relacionados com a educação, a saúde, o rendimento e a profissão, de 2008 a 2016. Posto isto, o algoritmo foi ensinado a ler frases em bases de dados e, a partir delas, apontar informações sobre a forma como a entidade em questão, pensa, se sente e se comporta, e até mesmo se a pessoa poderia morrer nos próximos anos.

A equipa responsável pelo estudo, de forma a prever o quão cedo alguém poderia morrer, utilizou dados de 1 de janeiro de 2008 a 31 de de zembro de 2015 sobre uma amostra de mais de 2,3 milhões de pessoas com idades compreendidas entre os 35 e os 65 anos. Neste estudo, os investigadores sabiam que pessoas tinham morrido depois de 2016, mas o algoritmo não. Após os testes, chegou-se à conclusão que o algoritmo estava correto em 78% das vezes. Assim, o “life2vec” conseguiu superar outros modelos e linhas de base de última geração em pelo menos 11%, prevendo com mais exatidão os resultados da mortalidade. O estudo concluiu que, por exemplo, uma pessoa com depressão pode ter uma morte precoce, e que alguém que ocupe um cargo de chefia pode ter uma vida prolongada.

Se, por um lado, os investigadores afirmam que este trabalho representa um avanço significativo na medicina preditiva e na análise de dados de saúde, também denunciam as suas limitações. Dados em falta, ou incapacidade de prever causas de morte que não estão relacionadas com o estilo de vida das pessoas, são alguns dos desafios apontados.

Em entrevista a’O Essencial, Ana Sofia Carvalho, Diretora do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e coordenadora do Gabinete de Ética e Investigação e Integridade Científica da Fundação para a Ciência e Tecnologia, revelou que esta tecnologia “ao levantar a questão da data da morte é assustador, mas permite que a Inteligência Artificial trabalhe numa área que é absolutamente essencial e que nós sabemos que é incontornável para aquilo que é a sustentabilidade dos sistemas nacionais de saúde, que é uma medicina preditiva”.

Ana Sofia Carvalho sublinha que esta tecnologia “levanta desafios, mas também levanta oportunidades, e nós temos que ver as coisas por aí”, acrescentando que, ao antecipar os problemas de saúde, os médicos podem intervir mais cedo, melhorar a qualidade de vida e, eventualmente, aumentar a longevidade dos doentes.

A Diretora do Instituto de Bioética da UCP deu um exemplo onde o “life2vec” pode fazer a diferença. “Imaginemos uma pessoa, com 40 anos, que tem um tipo de vida. O algoritmo pode dizer que, se continuar assim, aos 45 anos vai ter diabetes, aos 50 vai ter uma complicação dos mesmos. Portanto, consegue, de alguma forma, ajudar a pessoa a mudar eventualmente o seu comportamento ou a ser medicada para prevenir algum tipo de doença”, explica.

Este tipo de tecnologia permite a prevenção de doenças num utente mas, para Ana Sofia, este algoritmo pode ser vantajoso também para os profissionais de saúde, já que os libertam de tarefas administrativas e computacionais: “o facto de algumas tarefas poderem ser substituídas por Inteligência Artificial ou, pelo menos, poderem ser ajudadas, pode libertar os médicos para desenvolverem outros tipos de tarefas que, verdadeiramente, os ocupam”.

"Vamos ter os médicos mais disponíveis para fazer o que eles foram treinados para fazer, que é atender aquela pessoa que está ali, frágil, vulnerável e que precisa da sua atenção"

Implicações éticas

O uso de inteligência artificial trouxe consigo a necessidade de rever os estatutos éticos e legislativos dos campos onde atua, já que o uso de dados privados é essencial para o seu bom funcionamento.

Sobre as implicações éticas do “life2vec”, Ana Sofia Carvalho salienta que “a ética deve estar presente desde o início, para evitar vieses que podem levar a discriminações significativas. Toda a parte da proteção de dados tem de ser cumprida, para fazer com que o algoritmo seja explicável.” Além disso, a privacidade da pessoa é um dos valores que está regulado dentro do espaço europeu, através do Regulamento Geral de Proteção de Dados - “Não há decisões que possam ser unicamente tomadas por um algoritmo, principalmente decisões desta natureza”.

No caso de um algoritmo fazer um diagnóstico ou prognóstico diferente do de um médico, há a necessidade de se perceber o porquê de isso ter acontecido, partindo do pressuposto que a última palavra tem de ser de um humano, refere Ana Sofia.

A Diretora do Instituto de Bioética da UCP refere ainda que, neste tipo de algoritmos, apenas podem ser utilizados os dados “pseudo-anonimizados”, ou seja, que apenas as instituições de saúde ou as instituições governamentais têm acesso. Para que isto aconteça os dados são codificados, deixando assim de ter um entidade específica: “Quando se está a fazer o desenvolvimento do algoritmo, a pessoa não sabe quem é o código XYZ ou ZKY. O dado deixa de ter um rosto ou deixa de ter uma pessoa associada e fica completamente anonimizado”, esclarece. No entanto, salienta que isto pode trazer complicações porque “por exemplo, se encontrarmos algo importante do ponto de vista de saúde daquele dado, se ele estiver completamente anonimizado, nós não podemos voltar novamente à pessoa”.

Para evitar eventuais consequências, Ana Sofia relembra que é necessário haver uma preparação por parte de quem lida com estas tecnologias, concluindo que é de real importância que “todos os profissionais de saúde invistam em competências como a empatia, a honestidade, a coragem, que não aquelas competências científicas e técnicas que foram essencialmente treinadas” e que percebam que “a Inteligência Artificial está aí e é imparável”.



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