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Foto do escritorBeatriz Tavares

Crítica: Wokismo - absurdum religio* dos catedráticos doutrinada às massas

Atualizado: 17 de jan. de 2024

O livro A religião woke, de Jean-François Braunstein, chegou a Portugal em setembro de 2023, editado pela Guerra e Paz, que o integrou na coleção “Os Livros Não Se Rendem”.

Em menos de duzentas páginas, o autor aborda os diversos ramos do conhecimento e de composição das sociedades que esta teoria (bastante prática) recusa, ataca, corta e cola à prateleira ou, “simplesmente” anula, cancela, como a própria define.

Braunstein é um especialista francês em epistemologia histórica e metodologia da história das ciências, o que justifica a perícia com a qual vai ao cerne do problema e explora as origens do pensamento divergente, de comportamentos religiosos, protestantes que remontam ao século XVIII e vieram a dar origem à religião que o livro aborda.

O volume de pesquisa recolhida, compreendido em centenas de referências bibliográficas, e o modo como esse novelo de teorias tempestuosas e “guerra declarada à realidade” foi desenrolado e explicado capítulo a capítulo, ideia absurda a ideia absurda, se preferir, são aspetos deveras positivos a destacar em A Religião Woke.

Evite confundir: é woke, não wok - um utensílio de cozinha, o termo (e as teorias associadas) que Jean-François Braunstein explora neste livro. Ainda que haja uma miscelânea de teorias explanadas, que vai das noções de género e de raça à interseccionalidade, da Ciência ao Contra-Iluminismo ou da French Theory ao calvinismo. A religião de “ser/estar desperto”, como a origem da palavra, ironicamente, indica: “woke, na linguagem popular afro-americana, foi criado a partir de woken, o particípio passado do verbo wake, despertar.”

O encontro com estas páginas recordou-me das aulas de ciência política sobre o pós-modernismo, a teoria que, em poucas palavras, põe tudo em causa. Existem semelhanças várias entre ambas.

A religião woke é apontada como um neo-obscurantismo, por ir ao encontro de fórmulas que se opõem ao Iluminismo (que vê o pensamento individual e livre como luz), e como um ultra-reacionarismo, porque instiga a uma revolta constante, que contraria e tenta distorcer boa parte do que nos compõe e que, enquanto crescemos, vemos como imutável. Alimenta-se um problema: o agravar da autocensura, que pode culminar no impedimento constante do pensamento livre. Assim se põe democracias em risco.

O wokismo generaliza as mais ínfimas particularidades. Defende ser uma resposta ao cansaço face ao perpetuar do sexismo e do racismo e, no entanto, é mais uma forma de realçar as diferenças entre os seres humanos, porque vê o universalismo como um inimigo a combater.**

Atribui rótulos, apesar de nos definir como todos igualmente humanos, na espécie, mas os pensamentos, as ações, a personalidade, serem, a priori, definidos pela cor de pele, pelo género.

A religião woke define-se por ações, mais do que por ideias, uma vez que os seus militantes anulam a possibilidade de, quem não partilha o seu pensamento sequer falar, porque cola os ditos rótulos (de censura). São os “politicamente corretos” dos anos 80 e os que cancelam o que quer que seja, por tudo e por nada do século XXI.

As doutrinas que Braunstein clarifica pintam-se de preto ou branco, não há espaço para cinzentos, ou conversas de compreensão e, quiçá, consensos. Com esta última frase, arrisco-me a ser cancelada, assim o dita a “cultura” dos wokes. (Curioso como o significado de uma palavra pode, simultaneamente, ser o seu fim.)

Destaco uma expressão impactante desta leitura, a concisa: credo quia absurdum, “acredito porque é absurdo”. O que justifica este pensamento? A única forma de explicá-lo que encontro é precisamente a ausência de raciocínio. Só ao rejeitar a natureza humana, o ato reflexo de pensar, anular quem somos, o humanismo das nossas células, é que podemos defender as teorias woke.

Este mundo precisa que cruzemos pensamentos, os que nos chegam, os que procuramos. É a ouvirmos as perspetivas das outras pessoas que construímos as nossas. É nas diferenças e na unicidade de cada um que encontramos o ponto mais em comum que temos. Elas ensinam-nos o respeito e a tolerância, o diálogo, não o ataque ou a rotulação.

Em nota de fecho, surge-me um verso quando retrospetivo a leitura de A Religião Woke: “É urgente permanecer”. A associação não é direta, mas passível de diversas visões e perspetivas, contrariamente ao wokismo. Creio que a permanência é uma forma de protesto. Para bem dos nossos pecados, a língua portuguesa, mais do que questões de género nas terminações das suas palavras e outras polémicas afins, permite interpretar e adaptar as ações que significam os verbos. Permanecer livre é essencial, vital e, indubitavelmente, uma urgência para os seres humanos. Permanecer igual a si mesmo, a pensar pela própria massa cinzenta. “É urgente” ler livros como este e contrariar teorias, doutrinas que corrompem o que significa a existência humana: a capacidade de cogitar. Cogitemos, então! Liberdade, “não nos deixeis cair” na religião woke, pois é ela o absurdo mal. Amém.

"Quando docentes universitários se proclamam wokes, estão assim a decidir atacar radicalmente a ciência e o Iluminismo, a objectividade e a verdade, o que constitui, no mínimo, uma atitude inesperada quando vem de cientistas e investigadores."

* religião absurda

** «Para os wokes, só há negros ou brancos, pessoas de cor ou não, homens ou mulheres, trans e cis, etc. Para os wokes, não devem por isso todos ser tratados de forma igual, em nome de uma visão abstracta de igualdade, mas sim de forma “equitativa”, ou seja, com discriminações, positivas ou negativas, que deverão corrigir as desigualdades de facto.»


Crítica por Beatriz Tavares




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